Esperar pouca coisa ou uma surpresa ruim? Não vindo de Sam Mendes. Um diretor que tem na bagagem um filme como American Beauty (grande vencedor do Oscar de 1999) é no mínimo justificável que no comando de uma super produção fruto de uma parceria não tão menor entre Metro Goldwyn Mayer e Columbia tenha desempenhado um trabalho primoroso e grandioso, digno de reconhecimento devido.
A improbidade de outros responsáveis pelo desenrolar dos roteiros nesta saga de mais de 20 filmes pode ter dado, ao longo dos anos, uma certa infâmia ao agente mais famoso do Reino Unido, mas desde que Pierce Brosnan saiu do papel de James Bond e cedeu a vez a Daniel Craig (que, no caso, diz repeito ao tempo em que eu acompanho a saga integralmente) os filmes tomaram um rumo muito mais qualitativo que quantitativo, se é que vocês me entendem, e o entretenimento, que nunca vai ser deixado de lado, e que não pôde deixar de acontecer com clichês vis em Skyfall, não é nem de longe um empecilho para que existam pontos fortes que hoje estão presentes nos filmes, e que antes não eram vistos com "olhos de lucro" e como sucesso em potencial.
A dupla Neal Purvis e Robert Wade ataca novamente no comando do roteiro, e trazem à tona questões muito relevantes e factuais na vida de um agente como 007. A senescência, a crise da meia-idade e outros conluios bem metafísicos jogam a trama num clima denso e inspirador que dá um toque de seriedade na medida certa para a série, e nos faz pensar que era o ingrediente que faltava para a aclamação da crítica num filme de James Bond. O clima tenso que o vilão Raoul Silva, interpretado pelo grande e mais uma vez impecável Javier Bardem, deixa também é algo que faz o filme ficar cada vez mais interessante e emocionante, pois na pele de um ex-agente, subvalorizado e injustiçado, ele desempenha facetas e trejeitos com tendências homossexuais que em certo momento até nos faz duvidar da própria sexualidade de Bond, mas que dá um ar de sarcasmo e ironia em sequências e discursos marcantes durante o filme, tirando um pouco a tensão de cima dos ombros de um antagonista tão torpe quanto ele.
Uma das coisas que mais me chamou atenção, também, foi como a profundidade de campo aumentou em relação aos outros filmes. Achei que foi a hora exata de colocar mais vida e significado na paisagem em vez de apenas destruí-la nas sequências de ação. As cores bem representadas, com ótimos contrastes e que dão emoção para o que está sendo relatado pelas lentes, sugerindo boas interpretações aos apreciadores deste ponto. Nota 10 para a direção de arte/direção de fotografia.
The Dark Knight e Christopher Nolan. É impossível um grande fã deste reboot de Batman, como eu, não ter notado a incrível semelhança que existe entre a estória de Skyfall e a estória de The Dark Knight, e conversando com um amigo, ele até me afirmou que leu em uma matéria que o próprio Sam Mendes havia confessado a inspiração na direção da obra de Nolan, que faz com que se torne altamente perceptível aquele clima de tensão que o filme dá quando a impressão que temos é que o vilão é muito mais hábil e talentoso que o protagonista. Mas não se enganem quanto ao fato de essa inspiração existir, pois foi uma adaptação que visa a busca pela mesma atmosfera igual ao clima, a meu ver, que Stanley Kubrick procurou deixar presente em The Shining, de 1980, quando fez o elenco principal assistir à Eraserhead, de 1977, de David Lynch, para entender a linha de atuação a se seguir, não uma inspiração que beira a cópia como foi a relação entre The Artist, de 2011, e Singin' In The Rain, de 1952.
Para resumir, é um filme ótimo. Grandes interpretações de Daniel Craig e Javier Bardem, de Judi Dench e de outros secundários, mas assim como alguns clichês meio desnecessários e o sub-aproveitamento de uma grande estrela de altíssimo nível como Ralph Fiennes, existiram coisas que deixaram a desejar, é claro que sem deixar o resultado final comprometido, mas existiram, e como é um filme com uma estória muita densa e com questões muito sérias abordadas, pareceu-me que as 2 horas e 20 minutos de execução foram poucas para tanto detalhe, mas também foi algo que não comprometeu o meu veredito final.
É um belo filme e eu com certeza recomendo que assistam, e sim, é o melhor dessa nova trilogia, mas a diferença de Skyfall para Casino Royale não é tão gritante e eu diria que são dois filmes que seguem a mesma linha, muito competentes. Uma nota 9, sem medo de errar.
Página criada pra eu parar de expor publicamente minha posição a respeito dos filmes (via twitter), e começar a falar só para os realmente interessados na minha opinião.
domingo, 28 de outubro de 2012
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Moneyball (2011)

Posso estar errado, é verdade. Ainda não se formou o padrão, mas a sensação que eu tive depois que assisti Moneyball foi a mesma de depois de assistir a The King's Speech: uma provável e, considerando as interseções variáveis entre emoção e produção que a Academia costuma levar em conta, até incontestável vitória na categoria de Melhor Filme, por alguns motivos óbvios e claros percebidos durante alguns anos acompanhando a premiação.
Uma magnífica e arriscada aposta numa troca radical de estilo de gerenciar um time de beisebol, acreditada por um ex-jogador e seu assistente, é o conflito ininterrupto que se estende do início ao fim do filme. E nem é preciso falar que, mais uma vez, Brad Pitt esbanja talento, e retrata com sua interpretação, perfeitamente, um sofrido quarentão cujo os sonhos já foram devastados em outra ocasião na vida, e a única oportunidade que ele encontra de auto-remição é conseguir a afirmação no desenvolvimento de uma maneira eficaz de lidar com as próprias deficiências do limitado time que tem, podendo assim se acomodar consigo mesmo e tentar acabar com um carma.
A respeito da atuação dos dois de mais expressão, os atores secundários também estão muito bem. Boa cotação para apoio e grandes desempenhos. Philip Seymour Hoffman não decepciona. Como de praxe, está ótimo interpretando o treinador do time (Oakland A's) e, assim como Brad Pitt, é muito convincente. A incerteza era com Jonah Hill, que teve um único papel considerável e relevante - ele interpretou o personagem Seth em Superbad - em seu currículo até fazer Moneyball, mas também esteve ótimo enquanto, digamos assim, "auxiliar de palco", mostrando que pode sim adotar um novo estilo, que não o humor, ao seu role de ator.
Alguns problemas ocorreram durante o processo de produção do filme, como a necessidade de duas trocas na direção do projeto até que se definisse que Bennett Miller assumiria definitivamente. A necessidade de duas trocas, também, nos roteiristas, tendo Stan Chervin escrito a primeira versão do roteiro e, após Brad Pitt juntar-se ao projeto, ocorrido a contratação de Steven Zaillian para uma segunda versão, mas, logo em seguida, graças a Deus, Aaron Sorkin ter sido escalado para consertar o que caminhava para ser mais um roteiro com muito potencial, porém cheio de falhas pífias e perfeitamente descartáveis, feito por Zaillian (como em Gangs of New York, American Gangster e, o mais recente, The Girl With The Dragon Tattoo).
Numa opinião final, o filme é muito bom. Sentimental na dosagem certa, sem pieguice, é bem produzido, bem dirigido, tem uma fotografia respeitável, takes e propostas de inferência interessantes e plausíveis, e acho, realmente, que é um fortíssimo candidato às seguintes categorias do grande prêmio da Academia: Melhor Filme, Melhor Ator e Melhor Mixagem de Som.
Moneyball não é apenas mais um filme de esporte. Não é apenas mais um clichê americano. Não é pseudo-conteúdo. Em níveis moderados (mas não menos consideráveis) serve como uma eficaz lição de comportamento, determinação e sucesso pessoal que, se levada em conta, rende muitos lucros. É um ótimo filme que eu com certeza recomendo.
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